sexta-feira, 9 de julho de 2021

Para recordar Paulo Leminski, livro OSS, de Roberto Prado, Marcos Prado, Thadeu Wokciechowski e Edilson del Grossi


(Texto de Paulo Leminski, sobre o lançamento do livro OSS, de Roberto Prado, Marcos Prado, Thadeu Wokciechowski e Edilson del Grossi - publicado em jornal de Curitiba em 1985)

LEMINSKI ESCREVE SOBRE LIVRO OSS




Quando lançamos o livro OSS, em 1985 do século passado, qual não foi nossa surpresa ao abrir o jornal e descobrir que o Leminski havia escrito sobre ele o que segue abaixo. Prosa leminskiana entremeada de poemas tirados do livro - parceria minha com Edilson del Grossi, Marcos Prado e Thadeu Wojciechowski).

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PARA CONHECIMENTO GERAL DA NAÇÃO


(Paulo Leminski)

A recente descoberta dos textos OSS, na antiga capital do Paraná, uma cidade que se chamava Ka-Ra-I-Tu-Ba (ou Ko-Reu-Dupa, conforme outra tentativa de leitura possível) começa a provocar verdadeira revolução na ideia que se fazia do aborígene que habitava as bordas da Boca Maldita, rico sítio arqueológico onde foram encontrados os restos do “Homo Adherbalensis” e uma mandíbula do “Homo Mazzensis”, índices seguros de que havia vida inteligente no lugar, quando os textos foram escritos.

O crânio de um Dalton Trevisanosaurus Rex, um antepassado do vampiro da Transilvânia, com seu caninos afiados, prova que boa parte da fauna local se alimentava do sangue dos próprios companheiros de flora e habitat. A imensa quantidade de garrafas de Velho Barreiro e de cerveja é uma evidência dos hábitos etílicos da população desse vale, que se revelou tão rico em tesouros arqueológicos.

Basta dizer que foram encontrados vestígios do esqueleto de um Solda, a vértebra de um Manoel Carlos Karam intacta, a asa inteira de um Rogério Dias e até o omoplata de um Roberto Requião, facilmente reconhecível pela sigla PMDB, gravada na face anterior.

Nenhum Leminski foi ainda encontrado nas imediações da Boca, mas isso se deve ao fato de que esses animais ariscos preferiam as cruzes do Pilarzinho para desovar seus ovos e cometer seus desatinos. Esses animais viviam às custas dos bandos de dantes mendonças e setos que sobrevoavam os pântanos da Boca em busca de tipos para caricaturar. As primeiras tentativas de decifrar os textos OSS, hoje classificados em dois grupos, o Grupo OSS-Nossos e o Grupo OSS-Deles, começam a produzir resultados.

O primeiro texto a ser traduzido nos revela um mundo cheio de esperança e alegria, onde as ternas alegrias do lar se mesclam, delicadamente, a alguma porradas de karatê na boca. Ele diz, mais ou menos assim, traduzo livremente:

meus amigos bebem demais
meus amigos fumam demais
meus amigos falam demais
meus amigos morrem demais
(...)
eu chego sozinho aos quarenta

(Roberto Prado e Thadeu Wojciechowski)

A julgar por este fragmento dos textos OSS os contemporâneos tinham muitos amigos. Sem dúvida, a amizade era um dos sentimentos mais cultivados entre os OSS. O tom melancólico da conclusão insinua que os OSS não chegavam facilmente aos 40 anos, coisa que se devia certamente às condições insalubres da vida que levavam, a seus hábitos noturnos e aos vícios que praticavam.

O que mais espanta os tradutores dos textos OSS é a violência de inúmeras passagens, o que insinua que não era fácil a sobrevivência desse povo, em eterna luta contra instituições injustas. Basta atentar para passagens como:

vou te preparar uma emboscada
se sobrar um osso, dou
pra cachorrada…

(Roberto Prado e Thadeu Wojciechowski)

Ou:

é duro perder um dedo
mesmo tendo esta mão
cheia de dedos

(Marcos Prado e Thadeu Wojciechowski)

Nada nos autoriza a imaginar que os OSS tivessem mais de cinco dedos. “Cheia de dedos”, aqui, quer dizer apenas “uma mão inteira”. Por esse lado, podemos fazer um paralelo entre os OSS e a tribo “punk” que nessa época invadiu as butiques, danceterias e as lanchonetes da Boca, e proclamou o império da porrada, do Relógio das Flores até o Pasquale, ao lado da Ilha dos Macacos. Alguns pesquisadores suspeitam, por isso, que os OSS tinham relações íntimas com os primatas que praticavam “Rock and roll”, um ritual sangrento que exigia que um Jimi Hendrix morresse de “overdose” de heroína de seis em seis anos, para aplacar a fome de lucros das Warnes Brothers, uma divindade da época que soltava elepês e compactos pelas narinas. Segundo opinião unânime, o mais comovente dos textos OSS é um hino a um cometa chamado “Desta vez vai bater”, um poema que começava dizendo:

"em todos os textos antigos
desde os tempos mais remotos"

.......para terminar, melancólico:

"quer correr mas agora é tarde
quer gritar mas agora é longe"

(Roberto Prado e Thadeu Wojciechowski)

Não, senhores. Não era fácil a vida do povo que escreveu os textos OSS. O pessimismo que permeia os textos OSS fornece um testemunho eloquente da dificuldade de se relacionar com as ilusões da época, o desespero transformado em sarcasmo e ironia, a agressividade dos agredidos, a ira estéril daqueles que já não acreditam mais em nenhuma utopia. Nas areias movediças da angústia, os OSS não economizavam palavrões nem insultos, nem maldições aos deuses do céu e da terra.

Amanhã, de manhã, na livraria Dario Velloso, na feira “hippie”, na Praça do Relógio das Flores, vão estar à venda alguns poemas OSS, num volume chamado exatamente “OSS”. Quem quiser ir, vai. Quem não quiser vai plantar batatas, pois como diz um texto OSS:

ninguém vai querer saber
se você presta ou não presta
a grande maioria te odeia
o resto te detesta

(Roberto Prado e Thadeu Wojciechowski)

(Texto de Paulo Leminski, sobre o lançamento do livro OSS, de Roberto Prado, Marcos Prado, Thadeu Wokciechowski e Edilson del Grossi - publicado em jornal de Curitiba em 1985)

quarta-feira, 10 de julho de 2019

sábado, 25 de maio de 2019

Abraços a todos!

Ops, que legal, parece que estou voltando de outro Planeta!
Bom encontrar a família por aqui!
Parabéns, Beco Prado, mais um livro!
Notifica por aqui como encontrá-lo, pagamento...

terça-feira, 21 de maio de 2019

Neves de Oliveira convocados!

https://www.brasilcultura.com.br/arte-espaco/roberto-prado-lanca-obra-de-amplo-espectro-na-biblioteca-publica-do-parana/?fbclid=IwAR36ZLs9HSA5Q_nL499JKirSvXBq7N0z4yV0FfxDHHfjwWFGZ2YxpfGbB_8

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

http://www.osul.com.br/arte-na-superficie/

Pinacoteca do Estado de São Paulo

www.pinacoteca.org.br/pinacoteca-pt/default.aspx?mn=545&...Em cache
LILIA MANFROI. Título da Obra: Coragem, 2011 Data de Aquisição: 2014 Técnicas e Dimensões: água-forte e água-tinta sobre papel, 30 X 20,7 Doação de Maria Pinto e Maura de Andrade.

http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca-pt/default.aspx?mn=545&c=acervo&letra=L&cd=4040#
  

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

De Verão em Verão... Lília Sentinger Manfroi
80 anos

 Tenho um amigo que completa hoje, dia de Reis, 80 verões.
Já escrevi sobre ele e sempre, a cada ano, tenho novidades.
Ele tem uma alma quente que conforta e consola muita gente.
Uma alma enorme maior que sua sombra ao sol poente.
Tem as mãos grandes que derramam solidariedade.

Vejo-o sempre agindo, mas é um pensador.
Ele é muitos!
Sim, muitos, afinal todos somos um!
E ele é também muitos em um.

Foi médico e fazia bater corações.
O meu batia mais que todos!
Pesquisador citado internacionalmente,
apesar de ser gremista!
Foi professor e se dedicou a
preparar profissionais da saúde
na Arte de ensinar.
Escritor com mais de 10 obras editadas
E sua última obra, A Neta de Gardel.

Penso que sua sina é o Verão
Sua pergunta, sua inquisição.
Verão, o que posso fazer?
Verão, o que farei?

Verão é tempo futuro.
E assim é que meu amigo pensa,
Sempre no Futuro, no bem da Humanidade!
Num mundo melhor que começa na família,
nos amigos, nos semelhantes, nos seres vivos
e nele mesmo.

Os que convivem com ele vêm que de Verão em Verão, dia a dia meu amigo se renova sempre tentando ser melhor!

Ave! César!
Ave Família!

Ave Manfroi!